sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Criação

Por dentro, tatuagens que ninguém consegue ler. 
Por fora, uma coluna riscada de azul até o cóccix, um dia de sol, um espelho fora de ângulo, uma música em 7 e algumas cicatrizes. 
É que esse desenho da vida mora nas nossas próprias mãos. 
Teimo, ouso, abismo-me e crio eu mesma a criação.
Vida é risco e tem a cor que a gente escolhe. 
Viver por vezes rasga a gente e dói mesmo, mas se não cai a casca não há ser que voe.
O próximo risco é asa em pé de vento.
Meu coração é azul.


domingo, 6 de setembro de 2015

Lua Azul

Eu quis te dar uma canção
Mas, escuta menina, mira a lua
Que já traz no ventre a melodia
Deixa ser, mergulha e me escancara o riso
Seu olhar é prosa, farol e mel
Sem bebê-lo me consumiria
Menina mina de água
Signo de água que vem pra me contar
Que gente é pra se dar
Eu quis provar do teu olhar
Mas, escuta menina, quão profundo é mergulhar
O mar de amar nos despiu
Abissal é o luar de quem nessas águas se banhou
O olhar rasga e arrebata meu coração de poeta

Lótus enraizada
Fogo em água transformada
Há que ser inteira pra descobrir
Que depois do mais profundo é o mar
Que depois do mais profundo é amar

Sempre o mar

Nosso amor começou e terminou no mar.
Foi lá, sem nos darmos conta, que ele desaguou com as oferendas pra mãe d’água.
Era fevereiro.
Demorei seis meses para conseguir escrever sobre o que foi esse amor com gosto de sol, amor feito cavalo alado... Hoje: amor transformado.
Foi no encontro do rio com o mar que eu deixei esse amor abrir as portas do meu coração ainda endurecido.
Tanta paz, caminhos longos, mãos dadas... um alento na alma empoeirada.
Já disse, meu bem, seu maior legado em mim é sem dúvida a bondade.
Desse amor levo e quero o bem!
Sim, fomos felizes e selamos nossa união pelo poder da escolha e da verdade.
Pela escolha e pela verdade da felicidade é que, também, nosso amor se despediu... se despediu não, se transformou, é que elo  assentado em fogo não se desfaz.
Olhar pra trás é de mareiar olhar e encher o peito de gratidão.
O sal das lágrimas se faz feito gosto de mar, sempre o mar...
O mar me prega cada peça e meu coração inquieto serpenteia malemolente.
Isso deve ser por morar em minas montanhosas... é engraçado o que é o mar em mim.
Nosso amor se transformou em canto fraterno em um fevereiro melodioso vivido beira-mar.
Hoje aprendi a mergulhar.
Sou grata e as palavras escorrem em meu rosto com amor e gosto de sal.
(Des)carrego!


sábado, 5 de setembro de 2015

De subida ao pico

Piso e repiso o chão que abarca rostos de brio manchado
Memórias, afetos, construções, crateras, pó
Volto e revolto respirando o brilho entrecortado de minha cidade empoeirada
Para além do que meus olhos veem, há falta
Há cercas acerca de toda fagulha de liberdade
A geração de Ana já nasce cercada
São outras conexões que esses novos olhares alcançam
Já nascem sem ver o que é mesmo o pico do amor
Não vão ver nem sequer deslumbrar
O que é o pico livre sob a luz do pôr do sol

Negra Rima

Ela é preta
É negra da rima
Carrega seu corpo-estandarte aonde vai
Voz de reação
Chama pra ação
Ela é mulher e grita pelo que quer
Ela é mista
Índia da periferia
Carrega a revolução entre os dentes

A luta ainda não findou
E ela segue protegida

Tem sangue da Dandara
Tem sangue de Mairum
Tem sangue de N'zinga
Carolina, Cora, Pagu

Escreve história nas linhas da lida
A sua luta tem suingue de mandinga
Ginga na canção
Marca geração
Seu corpo é luz e vence a escuridão
Seu riso branco vence qualquer demanda
Ela tem um olhar de flecha certeira
Seu canto é revolução
Faz água brotar do chão

A luta ainda não findou
E ela segue protegida

Tem sangue da Dandara
Tem sangue de Mairum
Tem sangue de N’zinga
Carolina, Cora, Pagu


por Maíra Baldaia e Elisa de Sena